À conversa com as Decibélicas, uma banda punk de raparigas, que nasceu no subsolo Bracarense em 2016. Conversam sobre as origens da banda, o porquê de fazerem música juntas, só delas, entre raparigas. O que acontece quando as mulheres sobem ao palco? As Decibélicas têm-se afirmado como uma das bandas mais interessantes da Galáxia. Falam ainda sobre os maiores fracassos da banda, o contexto nacional e local. Contam também de uma gata que pariu durante um dos concertos delas. As Decibélicas são de momento: Ana Luísa, Nanda, Jad, Inês e Vanessa
Decibélicas são um conjunto musical punk rock experimental do minho fundado em 2017.
Apresentaram performances nos festivais Milhões de Festa, Indie Lisboa e na Festa do Sentido da Vida, assim como na galeria Zé dos Bois e nos Maus Hábitos (com Linn da Quebrada), entre muitas outros concertos. Apareceram no documentário “Ela é uma Música”. Fizeram parte do (agora defunto) Colectivo Projéctil, e estão associadas à promotora “Cantigas do Poço”.
“As Decibélicas são um conjunto musical experimentálico constituído por cinco ou mais elementos humanos venusianos diversos que, sem cuidado nem à estética nem à métrica, exploram os meandros da espacialidade musico-temporal do Poço Metafísico Augusto Bimilenar e Muy Singelo de Braga, numa tentativa produtivamente fútil de expressar a sua condição sistémica e/ou emocional. Serão vistas nos locais habituais e são muito simpáticas, mas cuidado!… Algo de inesperado poderá acontecer…”[1]
Nas suas músicas, as Decibélicas abordam questões como as contradições, a vida das mulheres, a opressão de género e de classe, relações afetivas, conflitos ideológicos e prespectivas punk sobre o mundo.A sua música foi descrita como “punk de intervenção feminista”[3] devido à sua abordagem irreverente de temáticas tipicamente associadas com as mulheres, como nas músicas ‘Maria’, ‘Televendas’ ou “Vagina Elétrica”, e que de alguma forma confrontam os públicos, típicamente masculinos do punk rock. Ainda assim, a banda costuma usar termos como “as gajas chatas” para se referirem à banda, apropriando, irónicamente, as possíveis críticas. Além disso, o conteúdo das músicas é por vezes ambíguo e interpretável desde múltiplas perspectivas.
Esta música é marcada por um tom cómico e crítico, referindo-se aos habituais discursos de género adotados pelos opressores, que se armam com a ideia de um “Bem Comum”. É notável a pouca representação das mulheres na cena punk-rock Portuguesa, sendo que as Decibélicas são um exemplo de um discurso alternativo, dentro de um contexto musical e social que se afirma como sendo pela igualdade de género, e mais amplamente, marcada por uma crítica à sociedade (e aos valores dominantes do capitalismo e do patriarcado). A investigadora Paula Guerra refere que a presença de temáticas sexistas e misóginas é inegável na cena rock Portuguesa
“(…) as expectativas sociais face à imagem e estética femininas. Assim, a moldagem social do corpo por padrões estéticos dominantes é contrária ao visual feminino punk, pois este contrasta e colide com essa feminilidade. Tal não quer dizer que o visual punk não se tenha moldado à lógica dominante e seja hoje objeto de uma classificação distintiva de sentido positivo, mas nem sempre o foi. Por exemplo, na atualidade, a Patti Smith é uma lembrança que o punk ofereceu às mulheres uma permissão para explorar as barreiras de género, para investigar o seu próprio poder, raiva e agressividade. Ou seja, Patti Smith, com a sua imagem de androginia desafiou a ideia mainstream sobre a feminilidade (Whiteley, 2006), mas foi um processo paulatino. ” [6] – Paula Guerra, et. al. 2017
Ouve as Decibélicas aqui: https://decibelicas.bandcamp.com/
Entrevista de Rui Magalhães, Texto Crítico de Mi_